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“Irrigação é um processo de aprendizado e requer um projeto de implantação. Não é comprar e usar”

A opinião é de Márcio Santos, presidente da CSEI (Câmara Setorial de Equipamentos de Irrigação), da ABIMAQ (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos). De acordo com o executivo, existem muitas iniciativas para ampliar a área irrigada no Brasil, que hoje compreende um pouco mais de 5 milhões de hectares, mas o desafio é descobrir onde irrigar, já que existem opiniões discrepantes sobre o tema.


Segundo estudo do Ministério da Integração Nacional em parceria com a Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) e o IICA (Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura), o país tem potencial para expandir até 10 vezes o tamanho atual, o que aponta boas perspectivas para a irrigação. “Para manter a produção ao longo do ano em alguns locais onde há seca, é importante que se tenha uma tecnologia de suporte à produção de alimentos específicos, que só serão produzidos em determinada época do ano se houver a irrigação, por isso, este sistema vem crescendo ao longo dos anos”.


Santos é presidente também da Lindsay América do Sul, uma subsidiária da americana Lindsay Manufacturing Co., que produz uma linha completa de sistemas de irrigação, como também atua na área de infraestrutura e segurança rodoviária.


Confira a entrevista:


Revista Canavieiros: Por ocasião de sua posse como presidente da CSEI – Câmara Setorial de Equipamentos de Irrigação, durante a Agrishow 2015, o senhor pediu a colaboração de todos para ampliar a área irrigada no Brasil. O senhor acha que há boas perspectivas boas para a irrigação nas lavouras brasileiras?


Márcio Santos: As perdas de produtividades em alguns locais devido à seca têm aumentado e há disponibilidade de água para irrigação em muitos desses locais, então é possível implantar projetos.

É por isso que cada vez mais aparecem iniciativas para ampliar a área irrigada no Brasil, porque sabem que assim podem garantir a produção, evitando prejuízos que vão se acumulando ao longo dos anos devido à irregularidade das chuvas.


Existem muitos trabalhos no sentido de verificar quais são os locais adequados, a disponibilidade de recursos hídricos e produtos que necessitam de irrigação. Como no caso do tomate, um dos produtos que fazem parte da cesta básica e que são irrigados, pois se não houver a produção, o preço dispara.


Então, para manter a produção, ao longo do ano, em alguns locais onde há seca, é importante que se tenha uma tecnologia de suporte à produção de alimentos específicos, que só serão produzidos em determinada época do ano se houver a irrigação. Por isso, este sistema vem crescendo ao longo dos anos


Mas o grande desafio ainda é descobrir onde irrigar. Como Câmara Setorial, procuramos nos amparar no conhecimento das agências (ex. Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), ANA (Agência Nacional de Águas), etc e buscar um consenso sobre o sistema, já que existem vários posicionamentos sobre o assunto. Precisamos estar presentes, participando sempre, no sentido de colaborar com o processo de aprendizado como um todo, porque sabemos que este aprendizado é útil e assim, de fato, pisaremos em solo seguro, contribuindo com a expansão da irrigação no Brasil.


Revista Canavieiros: No caso do setor sucroenergético, que há mais de cinco anos enfrenta uma de suas piores crises e que precisa buscar produtividades mais altas para conseguir sair deste cenário cinzento, a irrigação poderia ser uma saída, mas é preciso investir, o que no momento é complicado. Qual é a sua receita neste caso?


Márcio Santos: O setor sofreu com vários problemas, inclusive a queda da produtividade, sem nenhuma dúvida. Não há um consenso entre ser boa ou ruim a irrigação na lavoura canavieira, inclusive há especialistas que dizem que não é bom irrigar a cana para a produção de etanol, existem outros que acham que deve se irrigar a cana para a produção do combustível. Dentro da Câmara Setorial é difícil dar uma receita para o setor. O que tenho clareza é que a produtividade da cana-de-açúcar não cresceu nos últimos anos e a produtividade está muito ligada ao manejo, quando se pode incluir a irrigação, que em muitos casos deu excelentes resultados.


Revista Canavieiros: A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, pretende elaborar um projeto com base no estudo “Análise Territorial no Brasil para o Desenvolvimento da Agricultura Irrigada”, desenvolvido na Esalq/ USP, em parceria com o Ministério da Integração Nacional, em que o Brasil irrigue, a curto prazo, mais 1,5 milhão de hectares e, a médio prazo, 5 milhões de hectares. Qual a sua opinião sobre este interesse do Governo Federal em aumentar a área irrigada no país?


Márcio Santos: A gente sabe que um pedaço da inflação está ligada à cesta básica, pois quando você vai medir a inflação, vários itens são da cesta básica e parte da indicação se dá pela escassez do produto. Ter a viabilidade de produzir algum item da cesta básica de forma continua ajuda a não ter efeitos sazonais. É mitigar os efeitos sazonais e isso é bom. Então, o interesse da Kátia Abreu não é ajudar a irrigação, não é ajudar o agricultor, ela está atacando na raiz, garantindo assim os alimentos da cesta básica, evitando o aumento da inflação.


É necessário, antes de dizer que se tem que irrigar, indicar os locais onde se deve irrigar. Só aí poderemos colocar o projeto para irrigar no local certo.


Eu entendo como muito saudável, porque ela está atuando alinhada com o que seria para o país, a fonte de contenção de problemas. A ação é favorável, pois ela vai atuar entre outras coisas em irrigação em cesta básica e falta um programa específico para este fim.


Revista Canavieiros: A venda de equipamentos de irrigação também vem caindo como a de máquinas agrícolas?


Márcio Santos: Todos sofrem o efeito da crise. A irrigação tem o que a gente chama de uma cauda longa, ou seja, o tempo entre uma pessoa decidir comprar um trator é bem menor do que ela decidir comprar um pivô e colocá-lo para funcionar. Uma máquina não chega a ser um produto de prateleira, mas está bem customizada. Assim, o cliente compra e leva ou recebe o produto. Já o pivô requer um projeto. Este projeto é submetido à avaliação e requer uma aprovação ambiental, um conjunto de obra. O processo é mais longo do que o processo para adquirir uma máquina agrícola. Tanto é que, com raríssimas exceções, vendedores de máquinas não são vendedores de pivô, porque cada um tem um modo de operar diferente. Como um todo estamos caindo, a única diferença é que, às vezes, quando isso ocorre demora um pouquinho mais para chegar na gente, mas chega. O problema é quando o mercado de máquina começar a recuperar, pois demoramos um pouco mais para recuperar também.


Revista Canavieiros: Atualmente, quantas empresas desse setor estão em funcionamento no Brasil?


Márcio Santos: A CSEI tem hoje 45 empresas associadas que estão de alguma forma ligadas ao mercado de irrigação. Mas tenho certeza que a Câmara não tem todos os envolvidos, embora represente boa parte deles, porque muitas vezes se considera um fabricando de pivô, ou o fabricante de rolo, ou o fabricante de sistema de gotejamento, como os de peças, como empresas do setor.


Revista Canavieiros: Em relação à Lindsay, o senhor poderia fazer um balanço desde que a empresa iniciou suas atividades no Brasil? O mercado cresceu?


Márcio Santos: A Lindsay está no Brasil desde 2002 e a irrigação cresceu bastante desde então. Mas é preciso entender que este projeto não é feito da noite para o dia. Não é uma coisa que eu compro e coloco na lavoura e passo a utilizar amanhã. Tem que aprender a trabalhar a tecnologia.

Fonte: Revista Canavieiros, Canaoeste


Retirada de: ABIMAQ

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